Cross Commerce

IN 2124: quais são os seus desdobramentos no varejo?

Quem trabalha no varejo já conhece o impacto dos altos impostos brasileiros e como essas questões burocráticas incentivaram a ilegalidade intrínseca ao segmento no país. Com o cenário da pandemia, o varejo digital entrou nesse contexto e cresceu de forma robusta com plataformas informais no país. Em 2020, a evasão fiscal somou R$ 600 bilhões, segundo um levantamento do Poder 360. Os dados apontam ainda que 70% da evasão no comércio digital é impulsionada pelo cross border, que é a compra online de produtos de outros países sem pagar impostos.

A cada dia que passa, mais brasileiros estão comprando em sites internacionais online, atraídos por preços competitivos, mas que em geral não pagam os devidos impostos. Sites internacionais online, especialmente asiáticos, são atraentes pelo grande mix de produtos e preços baixos. 

O problema é que essas plataformas de comércio eletrônico estrangeiras têm práticas fora das regras em vigor no Brasil, enquanto a grande maioria das empresas tem de arcar com a formalidade. Os gastos com trabalhadores declarados, o recolhimento dos devidos impostos, as licenças para operar em dia, entre outros gastos, levam a uma concorrência desleal em relação a quem não pratica as atividades dentro da lei.

Além disso, a desigualdade amplia as taxas de desemprego e prejudica a economia do país, pois obriga empresários a adotarem modelos não mercantis de baixa produtividade, o que retarda o crescimento de empresas e cadeias produtivas. 

Hoje, a informalidade física migrou para o meio digital, e os grandes ambulantes da internet burlam as informações exigidas pelas autoridades (peso, preço, referência do produto – NCM – identidade do vendedor e do comprador no mínimo), se aproveitando das falhas no controle da entrada das remessas de produtos no Brasil.

No Brasil, o comércio eletrônico internacional tornou-se mais comum nos últimos anos, e as plataformas estrangeiras se multiplicaram. Segundo pesquisa da Receita Federal, o comércio eletrônico internacional deve crescer 20% ao ano nos próximos anos, passando de US$ 211 bilhões em 2022 para US$ 400 bilhões em 2026. Atualmente, o país responde por mais de 40% de todas as vendas online na América Latina. A região é um dos 10 principais mercados de maior interesse para os varejistas asiáticos que desejam expandir sua atuação internacionalmente. 

Em busca de equalizar esse jogo, governos de todo o mundo vêm buscando implementar novas normas. No Brasil, a Instrução Normativa 2.124, de 2022, é responsável por inibir o camelódromo digital. Entre outras vantagens, a nova diretriz garante maior segurança jurídica, oferecendo a todos regras iguais e garantias processuais, como a possibilidade de desembaraço aduaneiro antecipado e a permissão para aplicação do imposto integral, o que permite que a tributação do produto seja inferior à aplicada no sistema de taxação sobre os produtos importados proveniente do comércio eletrônico internacional.

A partir de julho de 2023, data estabelecida pela norma para os atores do comércio eletrônico internacional se adequarem, a Receita Federal Brasileira exigirá para todas as remessas internacionais o envio de informações listadas na própria norma. Esse processo novo agilizará o desembaraço do produto e, por consequência, trará mais celeridade na entrega para o cliente final. 

Graças às novas regras, a Receita Federal também poderá operar controles, verificando rotinas de registro e protocolo, bem como aumentar a capacidade de controle de rituais de compartilhamento do varejo digital e informações da plataforma e/ou transações financeiras. 

A boa notícia é que hoje já existem tecnologias de ponta, prontas para apoiar todos os atores de comércio eletrônico internacional, tais como marketplaces internacionais e nacionais, varejistas nacionais e operadores logísticos, nessa transição. A padronização do mercado deve aumentar significativamente as vendas, e as operações podem se tornar complexas, mas algumas soluções ajudam a integrar todos os atores da cadeia: do armazém e aeroporto ao mercado de destino e todas as necessidades transacionais de carteira, processos de segurança, processos alfandegários, gestão e atendimento. 

Muitas vezes, leva tempo para que novas normas se tornem naturais na vida cotidiana. Porém, em uma sociedade cada vez mais digital, inovações nos mais diversos segmentos podem garantir a saúde e a expansão das empresas. O crescimento sustentável da produtividade é importante para a melhoria do padrão de vida dos brasileiros, porém é difícil construir um país desenvolvido com tanta informalidade.

*Fábio Baracat é CEO da Sinerlog, empresa especializada em tecnologia Cross Commerce – e-mail: sinerlog@nbpress.com.br

     

Erica Stael

Recent Posts

Sinerlog testa Remessa Conforme no Aeroporto de Brasília

Hub exclusivo da Sinerlog no Aeroporto de Brasília promete acelerar a entrega de remessas internacionais…

1 semana ago

Como aumentar a oferta de produtos do seu comércio eletrônico e expandir as vendas no Brasil

O aumento da oferta de produtos importados é uma necessidade para e-commerces e marketplaces brasileiros…

4 semanas ago

Quais são as principais datas comemorativas para o e-commerce no Brasil?

Black Friday, Natal e Dia das Mães são algumas das mais importantes datas para o…

1 mês ago

Os 3 maiores setores de e-commerce no Brasil

O setor pet é um dos mais promissores para empresas internacionais de comércio eletrônico que…

2 meses ago

Cross border e-commerce: tendências e inovações para ficar de olho

O comércio eletrônico está cada dia mais global e a demanda por produtos importados no…

2 meses ago

5 dicas para vender online e elevar o faturamento da loja

Frete caro e demora na entrega são alguns dos problemas que repelem vendas em sites…

2 meses ago